ATA DA QUADRAGÉSIMA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 10.12.1996.
Aos dez dias do mês de dezembro do ano de mil novecentos e noventa e seis, reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e trinta minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente sessão destinada à entrega do título honorífico de cidadão de Porto Alegre ao senhor Edson Becker Dutra, nos termos do requerimento nº 121/96 (processo nº 2072/96), de autoria do Ver. Milton Zuanazzi e aprovado pelo plenário. Compuseram a Mesa: o Ver. Elói Guimarães, na Presidência dos trabalhos neste ato, o senhor Edson Becker Dutra, homenageado, o Senhor Álvaro Magalhães, representante do Senhor Prefeito Municipal, o Senhor Mário Emílio de Menezes, representante da Associação Riograndense de Imprensa, o Senhor Júlio César Pannebecker, Vice-Prefeito de Bom Jesus e o Ver. Milton Zuanazzi, proponente desta homenagem. Como extensão da Mesa, o Senhor Presidente registrou as seguintes presenças: o Senhor Elói Dutra, pai do homenageado, a Senhora Celi Dutra, mãe do homenageado, a Senhora Raquel Dutra, esposa do homenageado e seus filhos Daniel, Roberto e Fernando. Logo após, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, assistirem a execução do Hino Nacional. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores para que se manifestassem na presente homenagem. O Ver. Milton Zuanazzi, em nome das Bancadas desta Casa e como proponente da homenagem, discorreu sobre a colaboração que o homenageado deu para a música em nossa cultura, divulgando as origens e raízes do nosso Estado. O Ver. Jocelin Azambuja em nome da bancada do PTB, relembrou algumas passagens da vida do homenageado destacando a importância de seu trabalho para a música do Rio Grande do Sul. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, presenciarem a entrega do Diploma, da Medalha alusivos ao título e do livro "Porto Alegre à Beira do Rio e do Meu Coração". Logo após, foi concedida a palavra ao homenageado, que agradeceu a presente homenagem, expressando sua gratidão por este momento. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a todos para que, em pé, ouvissem a execução do Hino Rio-Grandense. Às dezoito horas e vinte e quatro minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos da presente Sessão, convocando os senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Elói Guimarães e secretariados pelo Ver. Milton Zuanazzi, como secretário "ad hoc". Do que eu, Milton Zuanazzi. Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos senhores 1º Secretário e Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Elói
Guimarães):
Damos por abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a conceder o
Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Edson Becker Dutra, de
autoria do Ver. Milton Zuanazzi.
Dando início aos trabalhos, convidamos para compor a Mesa o Sr. Edson
Becker Dutra, nosso homenageado; Sr. Álvaro Magalhães, representando o Sr.
Prefeito Municipal; Jornalista Mário Emílio de Menezes, representando a ARI;
Sr. Júlio César, Vice-Prefeito atual e futuro Prefeito de Bom Jesus, terra do
homenageado; Ver. Milton Zuanazzi, proponente desta homenagem.
Considerem-se, como extensão da Mesa: o Sr. Elói Dutra, pai do homenageado;
Sra. Celi Dutra, mãe; Sra. Raquel, esposa; os filhos Daniel, Roberto e
Fernando, e evidentemente, os demais familiares e os integrantes deste grande
Conjunto "Os Serranos".
Presente, também, o Ver. Jocelin Azambuja, que falará nesta Sessão.
Formada a Mesa, observando praxe regimental da Casa, em pé, escutaremos
o Hino Nacional.
(Ouve-se o Hino Nacional.)
O SR. PRESIDENTE: Passamos a palavra ao Ver.
Milton Zuanazzi, como autor da proposição que teve a unanimidade da Casa. O
Ver. Milton Zuanazzi falará em nome das Bancadas com assento nesta Casa,
excetuando-se a do PTB, cujo Líder, Ver. Jocelin Azambuja, ocupará a tribuna
posteriormente.
O SR. MILTON ZUANAZZI: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores meu caro Álvaro Magalhães que, neste ato, representa S. Exa. o Sr.
Prefeito Municipal e a Secretaria Municipal da Cultura; Jornalista Mário Emílio
de Menezes, representante da nossa ARI; meu caro Prefeito, amigo, de Bom Jesus,
Júlio César Pannebecker; Sr. Elói; Sra. Celi; Raquel e filhos; Edson; pessoal
do conjunto "Os Serranos"; conterrâneos que nos honram e que
homenageio na pessoa da Alorino Kuze, Presidente da nossa Associação dos
bom-jesuenses aqui residentes; meu caro Borghetti; Senhores; Senhoras.
Apesar dessa voz fanha, motivada por uma dor de garganta bastante
intensa, e um pouco de febre inclusive, não poderia deixar de comparecer,
referendar, dedicar algumas palavras, motivar e explicar o que me levou a
apresentar a esta Casa, que aprovou por unanimidade, o título honorífico de
Cidadão de Porto Alegre ao meu conterrâneo, ao meu amigo, grande músico do Rio
Grande, dedicado ao estudo da música e à divulgação das nossas origens e
raízes, o Edson Becker Dutra. Pelo que conheço, o Edson é um homem modesto.
Talvez depois me suceda nesta tribuna declarando que não merecia tal honra, mas
eu te digo, Edson, que talvez a mesma modéstia que te mova me move também. Já
que cada Vereador desta Casa tem direito a apresentar um título honorífico por
ano, como cidadão de Porto Alegre, e eu, nesses quatro anos de mandato, estou
apresentando meu segundo título. Foi a forma de eu, comigo, sem qualquer
demérito aos homenageados que por aqui passaram, ter o rigor suficiente para
que me sentisse com tranqüilidade para fazer uma homenagem desse porte.
Homenageei no ano de 1994 o Economista da Fundação de Economia e da PUC, Carlos
Nelson dos Reis, um ex-menino de rua, que viveu nas ruas, aqui em Porto Alegre,
desde os nove anos, sem pai nem mãe, e hoje é um economista, e me orgulhei
daquela história. Hoje homenageio um músico, não só por ser meu conterrâneo,
mas um músico que vem dignificando a nossa vida cultural. Você, Edson, apesar
de viver pelos salões de baile e de ser uma pessoa, assim como os demais
membros d’”Os Serranos" pessoas alegres, faceiras, vale a pena ir num baile
de vocês, pois, além de dançar, divertir-se e sentir-se bem, eu sei o quanto tu
levas com seriedade o teu trabalho. E até vem-me a frase daquele samba do
Vinícius de Moraes em que ele dizia que fazer samba não é contar piada. E até
colocaria: fazer música regional ou música nativa não é contar piada. Sei que
tu, como líder d’”Os Serranos", não contas piada, mas faz música com
profundidade, e não aceita determinadas correntes que, sempre passageiras,
acabam influenciando a cultura mais diversa, seja ela a nossa cultura regional
ou qualquer outra cultura. Vejo em ti um homem preocupado com isso, e um homem
para quem o dia-a-dia, a sua vida, é dedicada a estar diretamente vivendo com a
nossa gente, aqui no Rio Grande, fora dele, além-fronteira, e que merece com
que Porto Alegre, a capital dos gaúchos, e que tem a pretensão de ser a capital
do MERCOSUL, o homenageie. Nos sentimos suficientemente grandes para essa
pretensão. Temos que começar a valorizar aquilo que vem das suas origens, das
suas bases, aquilo que temos de mais puro, de mais cristalino, como as águas da
nossa querida Bom Jesus. Sinto-me absolutamente tranqüilo e a cavaleiro,
fazendo uma homenagem como esta sei que, ao homenagear Edson Becker Dutra,
estou homenageando o conjunto "Os Serranos". Infelizmente, não podia
fazer uma homenagem extensiva aos demais, apesar de "Os Serranos" já
terem sido homenageados nesta Casa com o Prêmio Lupicínio Rodrigues. Sei que
homenageando o Edson, "Os Serranos", homenageio a nossa música, a nossa
cultura, e também a nossa querida Bom Jesus, nossa terra.. Senti-me nessa
obrigação, nesse dever de, como Vereador de Porto Alegre, mas lá nascido, como
diz a música de vocês, "sempre que posso dou uma chegada por lá", me
senti na obrigação de trazer essa homenagem a Porto Alegre. Acho Bom Jesus uma
cidade com muitas riquezas inexploradas, nós somos de Bom Jesus, talvez por
estar naquele cantão do Rio Grande, afastado de tudo, de estrada, de uma vida
mais intensa. Temos lá riquezas, pedras brutas que estão aí para serem lapidadas.
Fiz duas homenagens: uma a ti, Édison, e fiz uma outra ao falecimento do Dr.
Artur Ferreira Filho, que não era cidadão de Bom Jesus, mas de São José do
Norte, mas foi nosso intendente. Lá deixou raízes e marcas e também me orgulhei
muito de ter feito essa homenagem ao Dr. Artur Ferreira. E contigo, Édison, eu
saio desta Casa, nesses quatro anos de mandato, tranqüilo. Procurei resgatar um
pouco da nossa terra, um pouco da nossa gente, trazendo para a capital do nosso
Estado, para a capital dos gaúchos, aquilo que nós temos de melhor. Você,
Édison, com certeza é o que temos de melhor em Bom Jesus. Falo isso com
tranqüilidade, independente de qualquer outro desejo ou interesse. Você é o que
nós temos de melhor lá em Bom Jesus, ou, pelo menos, entre os melhores da nossa
terra. Tenho certeza que Porto Alegre irá te acariciar com esse Título, vai te
dar essa dupla cidadania e vai se orgulhar de ter um filho duplamente cidadão
como você, o que a nossa terra tanto tem.
Agradeço a presença de todos. Fico emocionado numa hora como essa e
como uma espécie de dever cumprido, como se estivesse aqui fazendo uma
despedida de dever cumprido por estar homenageando alguém que merece e por
trazer um pouco de nós que ficará para a eternidade do Município de Porto
Alegre. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Jocelin Azambuja
está com a palavra.
O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores. Eu tenho alguma passagem e alguma influência, quem sabe, na vida do
Edson. Quando eu trabalhava na Caixa Econômica Estadual, se não me engano em
1970, um dia apareceu o Edson lá e colocaram-no no cargo de caixa, tesoureiro
Edson. No final do dia o Edson dizia para mim: "Eu não gosto deste
serviço, eu gosto de música, tocar gaita". Então eu o convidei para ir na
minha casa, uma casinha simples ali no Bairro Nonoai, o meu pai era funcionário
aposentado, modesto. Convidei-o para fazer um churrasquinho. Ele foi lá junto
com o mano que tocava violão. Os dois estavam morando em Porto Alegre, ele queria
fazer a Faculdade de Direito. O churrasco começou de manhã e terminou à noite,
porque os dois tocavam como malucos, e o meu pai adorava música, inclusive já
havia participado da Orquestra Sinfônica, tocando violino e violão e foi o
último ano de vida do meu pai, justamente naquele período em que o Edson foi
alguns fins de semana tocar lá em casa. Nós ficávamos conversando e eu
perguntava a ele o que ele queria na Caixa. "Se a tua família tem
condições, podendo te dar apoio, tu faz a faculdade e vai ser músico, que é o
que gostas de fazer: na Caixa fico eu, que preciso, porque eu não tenho
solução.'' Realmente, o Edson em seguida, abandonou a Caixa, porque viu que o
negócio dele não era contar dinheiro. O meu caso também não era o de ficar na
Caixa e acabei saindo também. Fui acompanhando a caminhada do Edson, d'"Os
Serranos" que acabaram se desenvolvendo e tornando-se o melhor conjunto
musical, que representa, realmente, o Rio Grande do Sul. Claro que essa é uma
avaliação pessoal, muito carinhosa, mas isso é dito por todos os gaúchos, não
somos nós que dissemos. Por isso que o Ver. Milton Zuanazzi foi de uma
felicidade muito grande ao prestar essa homenagem a esse seu amigo, seu
conterrâneo. Eu tive a felicidade de ir a Bom Jesus com o irmão do Ver. Milton,
Prof. Francisco, que levou-me lá para fazer uma palestra e ao final da
palestra, deram-me uma caixa de maçãs, dizem que o pessoal lá come muita maçã,
e entregaram-me dois livros do Dr. Abreu e Dona Marisa Abreu, que escreveram
sobre a história de Bom Jesus. Casualmente, ela, D. Marisa Abreu, foi minha
secretária no CPM da Escola Presidente Roosevelt aqui, em Porto Alegre. Então
essas relações de fraternidade - eu quando jovem ia lá para minha tia, em
Montes Capões, onde a gente fazia a base para ir aos bailes em Esmeralda, em
Bom Jesus, fazíamos a região toda ali -, são relações de carinho que temos com
a Cidade de Bom Jesus; depois o Edson também era de Bom Jesus e criamos uma
relação de amizade muito boa. O Edson acabou se formando, eu também anos depois
me formei em Direito. Seguimos caminhos semelhantes em termos da advocacia. O
que é importante, neste momento, é que Porto Alegre está reconhecendo, através
dessa proposição do Ver. Milton Zuanazzi, tudo de positivo que o Edson está
construindo e tem construído dentro da nossa Cidade, Porto Alegre, sendo a sua
base fundamental Porto Alegre, aqui estruturando a sua família, e viajando por
todo o País, levando as nossas tradições, levando a nossa boa música. Lembro-me
da minha formatura, quando contratamos "Os Serranos para tocar no nosso
baile de formatura aqui, no Parque da Harmonia. E lá estava o Edson com o
pessoal da OSPA tratando de montar um disco, misturando a música erudita com
nossa música nativista, enfim, este trabalho brilhante de buscar fazer com que
cada vez se respeite mais a nossa musica e a nossa cultura. E o reflexo disso
tudo, o reflexo do trabalho desses pais que amam tanto seus filhos e que os
criaram com tanta dedicação e tão voltados para as coisas do Rio Grande é que
hoje são feitas pesquisas como a feita há poucos dias, que demonstrou que o
gaúcho é aquele que mais gosta da sua terra no País. Os jovens gaúchos são
aqueles que mais querem ficar no Rio Grande, que não admitem sair do Rio
Grande. Isso é muito importante e isso é fruto dessas gerações de gaúchos como
os teus pais, Edson, que fortaleceram em ti e em teus irmãos, como tantos
outros fazem em suas famílias, as raízes da sua terra. Então, o trabalho que
vocês hoje desenvolvem para nós, porto-alegrenses - e eu que nasci em Porto Alegre
e tantos outros que aqui nasceram, mas que vivem as nossas culturas, as nossas
tradições trazidas de todo o Rio Grande - fortalece justamente esse momento
importante de termos hoje presente que a juventude do Rio Grande não quer sair
daqui; a juventude não tem como aspiração morar nos Estados Unidos ou na
Europa: a juventude do Rio Grande tem como aspiração maior viver no Rio Grande
e ser rio-grandense e ser brasileiro. Isso é muito importante. Esse é um
exemplo que toda a família transfere aos seus descendentes. Hoje os filhos do
Edson estão recebendo toda essa gama de estímulos a permanecerem cultuando as
coisas do Rio Grande. Então, por tudo que tu tens contribuído, Edson, para a
nossa sociedade, para a nossa Cidade, foi muito feliz o Ver. Milton Zuanazzi em
te dar o Titulo de Cidadão de Porto Alegre, porque Porto Alegre tinha essa
dívida contigo. É uma dívida de gratidão, de reconhecimento de uma Cidade que
te acolheu, te recebeu de maneira tão positiva e para a qual tu deste tanto em
troca, tens dado e vais dar muito mais ainda, já que não chegamos nem na metade
da nossa vida - e já estão falando que vamos aos 120 -, então, temos muito
tempo ainda. E tu tens muito tempo ainda com a música para desenvolver e dar a
Porto Alegre, a todo o Rio Grande e ao País. Acho que nesse momento só resta te
dizer muito obrigado por tudo que tens feito e por tudo que farás por esta
Cidade. A Câmara foi feliz em aprovar por unanimidade o teu título de Cidadão
de Porto Alegre. Meus parabéns. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Em continuidade, agora
faremos a entrega da certidão de adoção através deste Diploma, que adota como
Cidadão de Porto Alegre o nosso querido Edson, e também receberá a Medalha e um
livro de dois poetas gaúchos, Luiz de Miranda e Luiz Coronel, "Porto
Alegre à Beira do Rio e em Meu Coração".
Convido a todos para, em pé, presenciarmos a entrega do Título.
(Procede-se à entrega do Título, da Medalha e do livro.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o nosso
homenageado, Edson Dutra.
O SR. EDSON BECKER DUTRA: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Antes de fazer
uso da palavra, permito-me convidar os meus dois ou três colegas de conjunto
que estão aqui para que simbolize mais concretamente a minha gratidão através
de algumas canções, duas pelas quais tenho uma predileção especial e que
contam, de certa forma, a minha vida artística e toda a gratidão que me envolve
toda vez que me proponho a tocar, porque ao longo de minha vida artística e pessoal
tenho sido alvo de tanto carinho, que somente com palavras jamais entendi que
seria possível agradecer.
De sorte que recorro à minha eterna enamorada música para com ela
iniciar a expressar toda a minha gratidão por esse momento bonito da minha
vida, pelo qual os Senhores todos são responsáveis.
(São executadas as canções "Tordilho Negro" e "Serrano
Cantador".)
Meus queridos pais; familiares; meus irmãos de uma ordem maior,
perfeita e justa, Borghetti e Ronaldo; meus queridos colegas do Conjunto
"Os Serranos"; ilustre amigo Cel. Lonir Kroeff; meus familiares de
Bom Jesus; Alorindo Presidente da Associação Bom-Jesuense: eu tenho falado, em
muitas oportunidades, de improviso, quando apresento "Os Serranos",
em espetáculos por todo o Brasil. Mas, hoje, para esta ocasião, eu não senti a
firmeza de um homem que fala de improviso há tanto tempo, pois o assunto é
falar sobre a minha pessoa. Confesso a todos que me foi muito difícil pensar o
que eu ia dizer nesta hora, porque tinha certeza de que a emoção ia tomar conta
de mim. É o que acontece agora. De qualquer forma, sabia que teria de falar,
por isso escrevi alguma coisa. Perdoem-me a emoção.
(Lê.)
"Hoje é um dia especial em minha vida, comparável em emoção ao
melhor dia dos meus aniversários, ao dia do meu casamento, ao dia em que
nasceram meus três filhos que aqui estão. Hoje, de direito, estou nascendo em
Porto Alegre e, no ano que vem, nesta data, estarei fazendo o meu primeiro
aniversário como cidadão porto-alegrense. Quero agradecer ao ilustre Vereador,
jovem político, meu amigo Milton Zuanazzi, por ter proposto a esta Casa
Legislativa a concessão desta honraria; agradeço também a todos os nobres
Vereadores desta Casa que, por unanimidade, entenderam oportuno - ou se
associaram ao Ver. Milton Zuanazzi - prestar-me esta homenagem. O meu melhor
agradecimento a todos.
Ver. Zuanazzi, Porto Alegre tem hoje, quero crer, em torno de dois
milhões de habitantes, talvez mais. Desses, acredito que seiscentos mil, ou
mais, não nasceram aqui, são interioranos como nós. Em sua maioria são pessoas
boas, trabalhadoras, que dignificam esta capital como moradores. São
verdadeiramente cidadãos porto-alegrenses. Por isso, permito-me respeitosamente
discordar de V. Exa. quanto à escolha de minha pessoa para receber este Título
Honorífico. Milhares de outros poderiam ou deveriam estar neste lugar. No
entanto, se eu pudesse mostrar a V. Exa., como aos seus Pares e a todos os
presentes, a intensidade de meu amor por Porto Alegre, onde vivo há quase
trinta anos, onde construí minha casa, onde tenho meu escritório, onde advoguei
durante dez anos, onde vivo com minha família e onde, quem sabe, viverei o
resto da minha vida, aí talvez eu merecesse essa honraria, mas eu não posso
provar, eu só posso falar. É um sentimento que está aqui dentro do meu peito.
Se eu pudesse mostrar que dentro desse mesmo peito bate muito forte um
coração gaúcho, serrano, apaixonado pelos nossos usos e costumes, vibrante a
cada vez que propaga, pela música, a imagem da nossa terra pelo Brasil afora;
ah, se eu pudesse provar o quanto já falei sobre o Rio Grande fora daqui, o
quanto já cantei em versos nos mais distantes recantos da Pátria e fora dela,
que aqui tem um povo obcecado pela liberdade, pela igualdade, pela
fraternidade, um povo vocacionado para o trabalho e valente pela sua própria
miscigenação racial, aí talvez eu merecesse essa honraria.
Finalmente, se eu pudesse provar a V. Exa., Ver. Milton Zuanazzi, e a
seus pares o quanto já me emocionei e o quanto me emociono toda vez que subo
num palco para cantar a música da nossa terra, aquela efetivamente comprometida
com a autenticidade dos nossos valores culturais! Cada vez que ostento,
garbosamente, esta pilcha gaúcha, hoje nosso traje oficial - eu o faço
semanalmente junto com meus colegas de conjunto por este País-continente - ah,
Senhores, aí talvez eu consentisse em ser credor desta significativa homenagem.
Por derradeiro, a homenagem me foi feita. A concessão deste título me
foi dada, merecidamente ou não; sou um Cidadão de Porto Alegre. Agora, mais do
que nunca, levarei comigo a responsabilidade de cantar, de propagar, de
divulgar as belezas naturais e as qualidades do nosso povo, de representar, com
o meu trabalho e o dos meus colegas, a terra gaúcha em que vivemos.
Eu recebo este título em nome de cada um deles, que são parceiros, que
são amigos e que não nasceram aqui em Porto Alegre também, mas que lutam e que
vivem aqui, levando semanalmente, pilchados como eu, a imagem da nossa terra
além fronteiras. Ainda agora, recentemente, estivemos nos três países que
compunham até maio o MERCOSUL, levamos a Montevideú, Buenos Aires e Assuncion,
no Paraguai, a imagem do Rio Grande do Sul através da nossa pilcha, nossa
maneira de ser, da nossa música, pois fomos lá nos integrar com os colegas dos
países do MERCOSUL.
Em Buenos Aires uma senhora nos atacou na rua e nos perguntou se éramos
de Santa Fé na Argentina, porque lá em Buenos Aires segundo ela, já não se usa
mais a pilcha gaúcha, só no interior. E eu disse depressa a ela que éramos
gaúchos, brasileiros, e que na Capital dos gaúchos, na nossa Porto Alegre,
agora na minha Porto Alegre, hoje mais do que nunca a juventude se volta para o
tradicionalismo, a juventude valoriza nossos costumes, porque vê nele o
alicerce para a projeção de sua própria vida, os valores culturais que
recebemos dos nossos pais, como recebi dos meus pais que estão aqui, com a
saúde que Deus lhes deu e haverá de dar ainda. Estes valores procuro transmitir
a meus filhos, de amar esta terra, de gostar do Rio Grande, de ter orgulho de usar
a nossa pilcha. Porque ela representa, mais que qualquer outra coisa, o nosso
amor para com a nossa história, o respeito aos homens que fizeram o nosso
passado, o Rio Grande do passado. E, hoje, nós, que fazemos o Rio Grande da
atualidade, devemos nos orgulhar disso também e passar aos nossos filhos para
que eles passem às futuras gerações. Somos um povo, uma raça, e temos orgulho
disso.
Obrigado, Sr. Presidente. Obrigado amigo Ver. Zuanazzi, Obrigado, Ver.
Jocelin, por suas palavras amáveis. Obrigado a todos os Vereadores da Capital.
Obrigado às autoridades. Obrigado ao Sr. Prefeito Municipal representado pelo
meu amigo Álvaro. Obrigado representante da ARI. Obrigado amigos de sempre, que
nos acompanham. Obrigado irmãos Ronaldo e Borghetti. Obrigado a minha família.
Viva o Rio Grande! Viva a Pátria!
E agora me permitam, porque aqui grita um Cidadão de Porto Alegre: Viva
Porto Alegre! (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Convido a todos para que,
em pé, ouçamos a execução do Hino Rio-Grandense.
(É feita a execução do Hino.)
O SR. PRESIDENTE: Cumpridas as formalidades,
ao encerrarmos este ato, esta solenidade, cumprimentamos a todos os presentes,
o representante do Sr. Prefeito, o Vice-Prefeito de Bom Jesus, nosso
homenageado Edson Dutra, o representante da ARI. Queremos dizer que é uma
honra, Edson, para a Casa, para a Cidade, podermos ter-te prestado esta
homenagem, porque a Casa, com isso, resgata uma dívida, sim, que tem para
contigo e para com o Conjunto "Os Serranos", que, como bem disseste,
em versos, em repentes, falas por todo o Brasil na nossa terra e fora das
nossas fronteiras. Vocês, através da música, através da comunicação, viram, a
maioria já conhece, que o Edson é um homem que tem grande facilidade de
comunicação, é um orador, é um advogado e tem, na sua atividade, porque é um
artista, tem na música a sua principal atividade. É um homem que tem títulos
ganhos no Brasil, fora dele, discos de ouro, cidadão de outras querências. É
para a Cidade, Ver. Zuanazzi, uma oportunidade que V. Exa. ofereceu para que
ela, representada pelos seus Vereadores, pudesse homenagear o talento, a
virtualidade, a virtude gaúcha, a música, porque, quando homenageamos o Edson,
nós estamos homenageando o Rio Grande musical, na sua mais elevada expressão.
Antes eu dizia ao Edson que a música regional, a nossa música nativista - e
tenho feito essas observações porque sou um homem da campanha, que vivencia
todo esse processo cultural - a música regionalista, a nossa música já está
saindo dos galpões, dos CTGs, e está ingressando nos clubes da elite. Vários
clubes daqui de Porto Alegre, fora de Porto Alegre, estão criando os chamados
DCTG, Departamento de Centro Tradicionalista Gaúcho. Ali criam departamento
tradicionalista onde fazem fandangos. O Edson com o seu conjunto, quantas vezes
já atuou nesses bailes fazendo fandango nesses clubes sociais! Um disco dele
fala onde ele já atuou, parece-me dez, ou quinze Municípios, não só em CTG, mas
também em clubes. A música, como a mais bela expressão da arte, como um
instrumento de comunicação da melhor comunicação, a música desempenha um papel
importante de todos os pontos de vista, não só da recreação. Coisa bela são os
fandangos! Aqui a maioria já conhece, mas quem não conhece deve conhecer um
fandango quando lá estiverem se apresentando "Os Serranos", porque
abre a gaita e, aí, não pára mais. O fandango vai madrugada a dentro.
Edson, a tua família ... receba essa homenagem desta Casa, porque ela
te deve essa homenagem, ela expressa todos os sentimentos da Cidade de Porto
Alegre. Nós estamos de parabéns. O Zuanazzi não poderia deixar de ter sido mais
feliz do que fazer essa concessão que é extremamente justa e representativa. Tu
és agora o mais novo Cidadão de Porto Alegre. E não tenho dúvida: como tu já
vens fazendo, por onde andares haverás de cantar esta Cidade maravilhosa, que é
a nossa querida Cidade de Porto Alegre.
Agradecemos a presença de todos. Esse título que a Cidade oferece ao
Edson é de inteira e absoluta justiça. Estão encerrados os trabalhos.
(Encerra-se a Sessão às 18h24min.)
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